Emanuel, Psicografado
pelo médium Francisco Cândido Xavier
Nenhum espírito
equilibrado em face do bom senso, que deve presidir a existência das
criaturas, pode fazer apologia da loucura generalizada que adormece as consciências
nas festas carnavalescas. É lamentável que na época
atual, quando os conhecimentos novos felicitam a mentalidade humana, fornecendo-lhe
a chave maravilhosa dos seus elevados destinos, descerrando-lhe as belezas
e os objetivos sagrados da Vida, se verifiquem excessos dessa natureza entre
as sociedades que se pavoneiam com os títulos de civilização.
Enquanto os trabalhos e as dores abençoadas, geralmente incompreendidas
pelos homens, lhes burilam o caráter e os sentimentos, prodigalizando-lhes
os benefícios inapreciáveis do progresso espiritual, a licenciosidade
desses dias prejudiciais opera, nas almas indecisas e necessitadas do amparo
moral dos outros espíritos mais esclarecidos, a revivescência
de animalidades que só os longos aprendizados fazem desaparecer.
Há nesses momentos de indisciplina sentimental o largo acesso das forças
das trevas nos corações e, às vezes, toda uma existência
não basta para realizar os reparos precisos de uma hora de insânia
e de esquecimento do dever.
É estranho que as administrações e elementos de governos
colaborem para que se intensifique a longa série de lastimáveis
desvios de espíritos fracos, cujo caráter ainda aguarda a toque
miraculoso da dor para aprender as grandes verdades da vida.
Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices,
cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições
para que os salões se enfeitem e se acentue o olvido de obrigações
sagradas por parte das almas cuja evolução depende do cumprimento
austero dos deveres sociais e divinos.
Ação altamente meritória seria a de empregar todas as
verbas consumidas em semelhantes festejos na assistência social aos
necessitados de um pão e de um carinho. Ao lado dos mascarados da
pseudo-alegria, passam os leprosos, os cegos, as crianças abandonadas,
as mãos aflitas e sofredoras. Por que protelar essa ação
necessária das forças conjuntas dos que se preucupam com os
problemas nobres da vida, a fim de que se transforme o supérfluo na
migalha abençoada de pão e de carinho que será a esperança
dos que choram e sofrem? Que os nossos irmãos espíritas compreendam
semelhantes objetivos de nossas despretenciosas opiniões, colaborando
conosco, dentro de suas possibilidades, para que possamos reconstituir e
reedificar os costumes para o bem de todas as almas.
É incontestável que a sociedade pode, com seu livre arbítrio
coletivo, exibir superfluidades e luxos nababescos, mas, enquanto houver um
mendigo abandonado junto de seu fastígio e de sua grandeza, ela só
poderá fornecer com isso um eloquente atestado de sua miséria
moral.
(Texto retirado do Boletim Informativo "A Voz do Caminho"
Vitória-ES, Fevereiro, 1996, pág. 2)
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