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Os textos descritos adiante
foram extraídos da publicação "Grandes Médiuns",
da Editora Três - 1987, conforme figuras de capa e contracapa expostas
ao lado. Esperamos que você faça uma boa leitura. |
Chico Xavier: a
vida é a obra
Francisco
Cândido Xavier é um dos maiores, senão o maior, fenômeno
mediúnico já constatado no Brasil. Tal fato pode ser demonstrado
tanto pela sua popularidade, pela grande quantidade de depoimentos dos que
o estudaram ou pelas obras que surgiram a partir do seu dom.
Nascido em 2
de abril de 1910, sob o signo de Aries, Chico Xavier teve uma infância
dura, quase miserável, cheia de dificuldades e trabalho. Para piorar
a situação, com apenas cinco anos perdeu a mãe. Vendo-se
sozinho e sem meios para cuidar dos nove filhos, seu pai resolveu distribuí-los
entre amigos e parentes. Chico foi, então, morar com dona Rita, sua
madrinha, pessoa bastante geniosa e que chegava a ser cruel com aqueles que
lhe desagradavam. As vezes, o menino levava até três surras por
dia. Desabituado a esse tipo de tratamento e com saudades da mãe (que
não sabia estar morta), sempre que a madrinha saía, ele corria
ao fundo do quintal para chorar suas mágoas. Ali, passou pela primeira
experiência mediúnica : ao ouvir um barulho vindo das bananeiras,
olhou naquela direção e viu a mãe. A visão foi
tão nítida que pensou que ela viera buscá-lo. Sem dizer
que estava morta, a mãe pediu-lhe apenas para ter paciência.
Afinal tudo aquilo era para seu bem. Eufórico, Chico foi contar à
madrinha o que havia acontecido. Esta, certa de que ele mentia, aplicou o
tratamento adequado para tais casos - uma boa surra. Além disso, pediu
ao padre que a ajudasse a corrigir o mentiroso com conselhos e penitências.
Chico, então, foi obrigado a rezar mil Ave-Marias e, nas procissões,
carregar sobre a cabeça uma pedra de 15kg.
Dona Rita, para tornar mais eficiente o tratamento, espetava sua barriga
com garfos. As feridas tomaram-se tão dolorosas que ele tinha de vestir
mandriões, espécie de roupão curto para uso doméstico.
De uma
outra vez, Chico se viu obrigado a lamber a ferida do filho adotivo da madrinha.
O menino havia machucado a perna, o local infeccionou e começou a
purgar. Consultada, a curandeira local sugeriu um remédio: fazer uma
criança em jejum lamber a chaga por três sextas-feiras consecutivas.
Evidentemente, o médium ficou incumbido da tarefa.
Apavorado,
ele foi ao fundo do quintal para pedir ajuda à mãe. Quando soube
o que estava
acontecendo, ela aconselhou-o,
apenas, a obedecer dona Rita e "lamber com paciência". Provavelmente,
nada podia fazer. Mas, de qualqtler forma, prometeu ajudá-lo. Assim,
na sexta-feira, ao ser chamado para fazer o tratamento, Chico fechou os olhos
e foi em frente. Viu, então, sua mãe jogando um pozinho sobre
a ferida. Depois desses três repugnantes curativos, a ferida enfim
sarou. Chico, por sua vez, implorou à mãe que não deixasse
mais ninguém precisar das suas lambidas.
Felizmente,
ele ficou com a madrinha somente por dois anos. Seu pai casou-se novamente
e a madrasta, uma mulher de boa índole, recolheu os filhos do primeiro
casamento e acabou de criá-los, juntamente com os seis que teve depois.
Nos dificeis
anos de escola, Chico não deixou de ter ajuda espiritual. Segundo ele,
no primeiro centenário da Independência do Brasil, as crianças
do curso primário tinham de apresentar um trabalho sobre o tema.
Quando ia começar a composição, Chico viu ao seu lado
um homem que lhe ditava o que deveria escrever. Com medo, procurou a professora
e contou o que estava acontecendo.
Sensatamente, ela mandou que o menino voltasse à carteira e escrevesse
o que ouvira. "Não acredite que esteja ouvindo estranhos", disse ela.
"Está ouvindo a você mesmo. Cuide de sua obrigação
e não fale mais nisso." Ele obedeceu e ganhou o prêmio - uma
menção honrosa.
É
claro que nem todo mundo tinha a compreensão da professora. Como ainda
costuma ocorrer hoje em dia - e isso era ainda mais comum no interior católico
e preconceituoso das primeiras décadas deste século -, Xavier
sofreu todo tipo de agressão e preconceitos nas mãos da família,
padres e vizinhos que viam nas suas manifestações mediúnicas
apenas uma "coisa do diabo". Apesar do preconceito, não desistiu:
para melhor entender o que estava acontecendo com ele mesmo, passou a estudar
os livros de Allan Kardec e o espiritismo. Assim, sua mediunidade foi aos
poucos passando por um processo de depuração.
Com
apenas o primário completo, vivendo numa região humilde como
a de Pedro Leopoldo, interior mineiro, Chico Xavier publicou, em 1932, o
seu primeiro livro, Parnaso Além-Túmulo, com 56 poemas
de 14 diferentes autores, todos mortos.
Esse foi
o início das discussões em tomo de Chico Xavier, algumas delas
próximas da censura e do puro preconceito. Parnaso trazia poemas
de nomes como Augusto dos Anjos, Casimiro de Abreu, Guerra ]unqueiro e Castro
Alves. Os que então acreditavam ser os donos da tradução
literária brasileira, evidentemente, não aceitaram a pretensão
daquele jovem desconhecido de 22 anos, um humilde interiorano, em afirmar
que recebia os textos daqueles autores.
O processo
Chico
começa a chamar ainda mais a atenção tanto do mundo
espiritual do País quanto dos, digamos assim, leigos, quando publica,
em 1937, o seu quarto livro: Crônicas de Além-Túmulo,
atribuído ao espírito de Humberto de Campos, romancista e ensaísta
morto apenas três anos antes.
Como seria de esperar, a polêmica
em tomo dos trabalhos de Chico Xavier redobrou. Dessa vez, a família
do escritor levou Chico Xavier à Justiça. Segundo a visão
da viúva de Campos, Chico, era um charlatão e usava indevidamente
o nome do autor - que, é claro, era ainda um nome querido dos leitores
brasileiros.
A família
Campos, assim, exigia o pagamento dos direitos autorais relativos ao livro
atribuído por Chico Xavier a Humberto de Campos (em, uma edição
que, exatamente a partir do processo, passou a ter mais atenção
por parte do público) e pedia a críticos e especialistas em
literatura que estudassem os textos incluídos na obra, para confirmar
ou não o seu valor literário.
Para a
família Campos não havia dúvida : Crônicas de
Além-Túmulo era uma obra "a mais lastimável possível.
Não só ( ...) eivada de imperdoáveis vícios delinguagem
e profundo mau gosto literário, como ( ...) paupérrima de imaginação
e desprovida de qualquer originalidade".
Não era essa, no entanto,
a visão da própria mãe do escritor psicografado. Na época
ela declarou: "O estilo é o mesmo do meu filho. Não tenho dúvidas
em afirmar isso e não conheço nenhuma explicação
científica para esclarecer o mistério, principalmente se considerarmos
que Francisco Xavier é um cidadão de conhecimentos medíocres.
( ...) Só um homem muito inteligente, muito culto, e de fino talento
literário, poderia ter escrito essa produção, tão
identificada com a de meu filho."
Somente
vários anos depois, em 1944, foi dado o veredito da justiça:
saindo pela tangente, foi decidido que "o grande escritor Humberto de Campos,
depois de sua morte, não poderia ter adquirido direito de espécie
alguma e, consequentemente, nenhum direito autoral" poderia ser passado dele
"para seus herdeiros e sucessores". Com essa decisão, Chico Xavier
continuou livre para prosseguir em seu trabalho de psicografia - ainda que
não mais usasse o nome de Humberto de Campos substituído por
Irmão X. No entanto não foi mais possível discutir, a
nível jurídico, uma posição oficial sobre o espiritismo
e as obras psicografadas. Ainda assim, todo o processo contra Chico serviu
para levar o debate sobre os trabalhos espíritas até os jornais
e ao leitor leigo.
Embusteiro
Hoje,
50 anos depois de toda a polêmica, o espiritismo é um tema bem
menos tabu. Prova disso são as revistas, jornais, seminários,
debates e encontros entre especialistas e o público interessado.
Prova disso é o estudo
da 'parapsicolpgia a nível universitário (uma prática
que apenas se inicia no País) e até mesmo programas de televisão
dedicados à mediunidade.
Desde que
o médium de pedro Leopoldo publicou seus primeiros livros, no início
dos anos 30, muita coisa mudou. De lá para cá, psicografou
cerca de 300 obras de mais de mil autores ou espíritos comunicantes,
sendo provavelmente o maior best-seller do País e da América
Latina, com cerca de 13 milhões de obras vendidas, muitas delas traduzidas
e lançadas no Exterior.
Ainda assim,
nos meios não-espíritas, Chico Xavier é visto apenas
como uma curiosidade. Isso quando não continua sendo visto como o
foi no processo dos anos 30: um charlatão. São preconceitos
de todo o gênero que cercam o seu trabalho: religiosos, culturais, sexuais,
intelectuais.
Dessa maneira, evita-se discutir
uma possibilidade levantada pelo cético, iconoclasta e irônico
Monteiro Lobato, ao conhecer seus livros: "Se Chico Xavier produziu tudo aquilo
por conta própria, então ele pode ocupar quantas cadeiras quiser
na Academia."
Contra
as obras de Xavier foram levantadas uma série de dúvidas, todas
basicamente ligadas ao fato de que ele não seria nada mais do que
um razoável plagiador. Com tal argumento, no entanto, seus críticos
acabam fazendo um grande elogio intelectual a sua obra, já que eles
mesmos confirmam existirem traços de cada um dos autores psicografados
pelo médium em seus livros.
Como escreveu Raimundo Magalhães
J r. ainda no auge das discussões, "se Chico Xavier é um embusteiro,
é um embusteiro de talento. Para um homem que fez apenas o curso primário,
sua riqueza vocabular é surpreendente. Sua facilidade de imitar seria
um dom excepcionalíssimo, porque ele não imita apenas Humberto
de Campos, mas Antero de Quental, Alphonsus Guimarães, Artur Azevedo,
Antonio Nobre, etc. Quem negar Chico Xavier como médium, estará
fazendo seu elogio como pastichador.
Chico e a adoração
Essa
colocação de Magalhãesjr. - durante décadas escritor
da Academia Brasileira dé Letras -,feita em 1944, continua servindo
perfeitamente para os tempos atuais: quem acredita na mediunidade e
de alguma forma professa o espiritismo simplesmente aceita o fenômeno
e dele faz a maior publicidade.
Aqueles
outros que, ao contrário, seja por fé religiosa, política
ou ideológica, não crêem em mais nada a não ser
no materialismo olham para esses fatos com um sorriso superior e jamais se
propõem a conhecer o que existe de real por trás de tudo isso.
Ou seja:
os exércitos espírita e materialista permanecem em lados opostos,
sem dar qualquer chance um ao outro. E o preconceito em relação
aos artistas-espíritas (que se comunicam através de texto, pintura
ou música) é o mesmo. Por outro lado, a adoração
a esses artistas muitas vezes chega ao culto à personalidade.
Chico Xavier,
no entanto, conseguiu atravessar esses anos todos sem muita interferência
externa ao seu trabalho: colocou-se sempre à disposição
da sua fé - o espiritismo - e dos mentores espirituais, sem jamais
permitir que a notoriedade ou o sucesso dos livros ou da sua atuação
chegasse a transformá-lo em um egomaníaco.
Essa é,
provavelmente, uma das questões mais difíceis para o próprio
Chico, que encontra - principalmente entre aqueles que mais o aplaudem e
seguem - a tendência para transformar a sua pessoa em algo próximo
a um santo, um iluminado, um profeta.
O médium,
invariavelmente, colocou toda essa tentativa de personalização
no seu devido lugar, evitando trazer para si os louros do trabalho mediúnico
e, sempre que fosse impossível evitar uma aparição pública,
comportando-se como um homem comum que, por algum motivo inexplicável,
carrega o dom de se comunicar com o Invisível. Mesmo em 1981, quando
surgiu uma campanha nacional para levar o seu nome até a candidatura
ao Prêmio Nobel da Paz, muitos espíritas conhecidos publicamente
- atores, diretores, produtores de televisão e teatro - apareceram
mais do
que o próprio possível
agraciado. Chico, no entanto, fiel ao seu trabalho e ao silêncio em
relação às pompas, praticamente permaneceu ao largo da
idéia, sem se envolver pessoalmente. A propósito, a introdução
do seu primeiro livro ele escreveu : " ...não venho ao campo da publicidade
para fazer um nome, porque a dor há muito já me convenceu da
inutilidade das bagatelas que ainda são estimadas neste mundo".
Emmanuel entra em
cena
Chico
Xavier, na verdade, não se vê como um homem paranormal, estranho
e acima do comum dos mortais: apenas, é dotado de uma faculdade que
qualquer homem teria, a mediunidade - com a visível diferença
de que se dedicou ou não teve como fugir disso.
Esse dom,
no entanto, sempre fel questão de lembrar, não faz dele um homem
superior aos demais. Pelo contrário: é um homem comum, com
todas as imperfeições do ser humano, mas à busca de
um pouco mais de conhecimento, de paz e maturidade. Para isso, Chico sempre
afirmou que o caminho passava pela humildade, o silêncio e a compreensão.
Grande
parte dessa postura, afirma ele, se deve ao seu mentor, Emmanuel. O espírito-guia
surgiu ao médium em 1931, quando Chico ainda iniciava seus trabalhos
e não havia publicado nenhuma obra.
Escreve
Chico no prefácio de Emmanuel, publicado em 1938: "Desde 1933,
Emmanuel tem produzido, por meu intermédio, as mais variadas páginas
sobre os mais variados assuntos. Solicitado por confrades nossos para se
pronunciar sobre esta ou aquela questão, noto-lhe sempre o mais alto
grau de tolerância, afabilidade e doçura, tratando, sempre todos
os problemas com o máximo respeito pela liberdade e pelas idéias
dos outros."
Certa vez,
Emmanuel contou a Chico Xavier que, há dois mil anos, foi um senador
romano e viveu no tempo da passagem de Cristo pelas regiões dominadas
pelos romanos, tendo morrido em 79, em Pompéia, durante a erupção
do Vesúvio. Curiosamente, sendo a tradição católica,
foi este mesmo senador romano - Publius Lentulus, governador da Judéia
no tempo de Cristo - quem deixou o único documento conhecido sobre
a aparência fisica de Jesus, aceito pelo Vaticano.
Em 1940,
Chico Xavier publica 50 Anos Depois, onde Emmanuel continua a narrar
suas passagens pela vida fisica. Depois da morte em Pompéia, conta
Emmanuel, volta como Nestório, um escravo romano morto no Circo Máximo.
Somente
15 séculos depois Emmanuel afirma ter voltado ao mundo, agora no corpo
do padre Manuel da Nóbrega, nascido em Portugal, em 1517, e morto
no Rio de Janeiro, em 1570. Nóbrega
é uma das peças fundamentais na catequese dos índios
no Brasil e sobre isso Emmanuel ditou a Chico Xavier : "Via a floresta a
perder-se de vista e o patrimônio extenso entregue ao desperdício,
exigindo o retomo à humanidade civilizada e, entendendo as dificuldades
do silvícola relegado à própria sorte, nos azares e
aventuras da terra dadivosa que parecia sem fim, aceitei a sotaina, de novo,
e por padre Nóbrega conheci de perto as angustias dos simples e as
aflições dos degredados".
O trabalho é
o caminho
O trabalho
simples e constante de Chíco Xavier, nestes últimos 60 anos,
por mais duro que tenha sido para o cidadão Francisco Cândido
Xavier, levou a mediunidade e o espiritismo em geral a serem aceitos e discutidos
por uma camada bem maior da população brasileira. Hoje, a não
ser entre materialistas míopes, é dificil descobrir alguém
neste país que não tenha, em algum momento na Vida, buscado
conhecer um pouco mais sobre o Invisível.
Chico,
apesar disso, permanece humilde e se recusa até mesmo a responder àqueles
que vêem nele um mistificador, resultado de anos e anos de leitura
que o levaram a escrever os livros que assina, desde 1932: "Realmente são
muitas as pessoas que me supõem na condição de uma criatura
que devora livros e mais livros", disse ele em 1979, numa entrevista concedida
a Fernando Worm. "Mas não me ofendem com isso. Ficaria até
mesmo feliz se assim fosse. Acontece, porém, que comecei a trabalhar
profissionalmente aos dez anos de idade e, desde 1931, sou portador de enfermidade
irreversível num dos olhos. Em Vista disso, nunca pude ler excessivamente,
conquanto seja um dever para cada pessoa cultivar-se quanto lhe seja possível."
Nessa mesma
entrevista, Chico Xavier conta, na sua forma direta e simples, um pouco das
suas reflexões sobre o papel mediúnico: "Indiscutivelmente,
nos primeiros 10 a 15 anos do início das tarefas, estive na condição
do animal em processo de domesticação para aceitar o serviço
que se faz necessário".
Com o passar do tempo, entretanto,
Chico reconheceu: "( ...) As realizações deles estão
muito acima de qualquer cogitação de meu espírito estreito,
cabendo-me obediência feliz às instruções que,
por bondade deles, possa receber."
Durante
todos esses anos, a fama e a notoriedade foram dois temas que sempre cercaram
Chico Xavier, que assim se colocou diante desse problema : "Creio que a fama
é uma grande oficina de fotografias. Uma criatura conquista renome
e, com isso, passa a ser vista por numerosas pessoas que simpatizam ou não
com ela. Começam aí as fotos da pessoa em causa. Cada amigo
ou adversário apresenta a imagem que mentaliza e os retratos falados
ou comentados vão aparecendo. ( ...) Refiro-me ao assunto com o respeito
que me vincula à indagação, mas preciso esclarecer que,
quanto a mim, nunca precisei
estar vigilante contra os inconvenientes da fama, de vez que nada fiz para
conquistá-la e se trabalho sempre é porque preciso aprender
a servir. "
A visão cientifica
E Chico
Xavier começou a servir, inicialmente, psicografando livros de autores
ou pessoas desaparecidas. Mais tarde, passou a atender àqueles que
o procuravam em Uberaba (para onde se mudou em janeiro de 1959, à procura
de um clima mais saudável e condizente com os vários problemas
que sempre acompanharam o seu organismo debilitado), levando conforto e mensagens
de carinho aos familiares daqueles que haviam morrido inesperadamente.
Nestas
décadas de trabalho, o fenômeno Chico Xavier foi estudado tanto
por pesquisadores espíritas quanto por homens como Hernani Guimarães
Andrade, diretor do Instituto Brasileiro de pesquisas Psicobiofisicas (IBPP).
Para Andrade, as obras psicografadas por Xavier podem ser divididas em populares,
científicas e filosóficas. Assim, diz ele, o público
pode encontrar , entre as centenas de trabalhos já publicados, aquele
texto que tem condições de assimilar .
"Não é de admirar
que muitas pessoas", lembra Andrade, "pouco informadas a respeito do espiritismo,
da parapsicologia, da biologia ou da fisica, classifiquem esses livros na
categoria de coletâneas de historietas ou dramalhões água-com-açúcar
e de péssimo gosto literário. O uso excessivo de adjetivos qualificados
e a forma literária muito rebuscada, do tipo 'romance antigo', ainda
mais concorrem para conduzir o leitor ingênuo a semelhante julgamento
errôneo acerca do valor dessas obras.
Andrade
lembra que, em vários trabalhos de Chico Xavier, é possível
encontrar "interessantes previsões científicas, algumas delas
concementes a avançadas cogitações, somente acessíveis
aos cientistas ultra-especializados. Não se trata de meras coincidências,
do tipo de profecias de cartomantes, adivinhos ou astrólogos de almanaque
e televisão. São realmente citações concisas
e expressam-se com propriedade e precisão impecáveis".
Em 1943,
surgiu uma outra entidade que, junto a Emmanuel, tem acompanhado a vida mediúnica
de Chico Xavier , sendo responsável pela criação de
15 livros, sendo que 11 deles pertencem à série "Nosso Lar".
Essa entidade
jamais revelou seu nome, sendo conhecido, desde então, simplesmente
como André Luiz, sabendo-se apenas que é um conhecido médico
e cientista brasileiro. Muitos seguidores de Chico afirmam que André
Luiz seria, na verdade, o médico sanitarista Oswaldo Cruz, morto em
1917, aos 45 anos, pioneiro da medicina experimental no País e homem
que lutou contra toda a ignorância do povo e autoridades, erradicando
a peste bubônica e febre amarela no Rio de Janeiro e São Paulo.
Chico,
no entanto, jamais confirmou qualquer coisa em relação à
real identidade de André Luiz. A única coisa clara é
que, a partir daí, ele começa a ter uma atuação
pessoal na assistência social, criando centros de ajuda às vítimas
do terrível mal chamado pênfigo ou fogo-selvagem e de amparo
a velhos e crianças abandonadas ou a ex-presidiários.
Esse trabalho,
em especial, é um dos que mais atraem o médium, que apóia
pessoalmente a luta
pelos donativos e construção dos centros hospitalares
ou de refúgio. Segundo Elsie Dubugras, redatora da revista Planeta,
são "inúmeros os hospitais psiquiátricos e casas de saúde
dedicados ao tratamento de doentes mentais, orientados pelas diretrizes contidas
nos livros de Chico Xavier".
Todos esses
hospitais servem o pensamento de André Luiz-Chico Xavier, atuando
numa área que, é claro, deveria ser coberta pelas secretarias
ligadasaos governos. Chico, no entanto, não pede, não espera,
não reclama nada da parte das chamadas autoridades : através
de todos aqueles que ainda têm compaixão, "auxilia os carentes,
os doentes, os desequilibrados e os sofredores", como lembra Dubugras.
Hoje aos
77 anos de idade, Chico Xavier é uma das poucas chamadas lendas
vivas do
espiritismo. Depois de décadas de atuação ininterrupta,
ele próprio afirma que está cansado. Ainda assim, qualquer
estudioso e interessado tem a seu dispor milhares e milhares de páginas
de livros escritos - alguns deles em um dia - sobre temas os mais variados,
que vão da psicologia à religião, da fisica à
sexualidade. O menino pobre e semi-analfabeto de Pedro Leopoldo tornou-se
um dos mais conhecidos e sérios médiuns do século. Não
é pouco :algo de inesperado sempre ocorre quando alguém se propõe
a ser a voz do Invisível.
O que há
para se ler
- Nosso amigo
Chico Xavier -Luciano Napoleão da Costa e Silva, Nova Mensagem Editorial
Ltda. 1977.
- Ação
e Reação - Francisco Cândido Xavier, pelo espírito
de André Luiz, Federação Espírita Brasileira.
- Agenda Cristã
-Francisco Cândido Xavier , pelo espírito de André Luiz,
Federação Espírita Brasileira.
- E a vida
continua - Francisco Cândido Xavier, pelo espírito de André
Luiz, Federação Espírita Brasileira.
- Emmanuel
- Francisco Cândido Xavier, pelo espírito de Ernrnanuel, Federação
Espírita Brasileira.
- Planeta
nQ 151- "O elo entre espiritismo e ciência" (pp. 18-20).
- O Assunto
é nº 21, Espiritismo -"Chico Xavier, o mensageiro do Além"
(pp. 24-28).
- Planeta
Especial nQ 130-B -"Chico Xavier",
Texto extraído
de publicação da Editora Três - "Grandes Médiuns
- Chico Xavier" - Ano: 1987
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