CONTRADIÇÕES
ACERCA DA VIDA NO PLANETA MARTE
Desde as épocas mais remotas o Universo tem
nos acenado com a possibilidade, cada vez mais admissível, de existência
de vida extraterrena; e, ao elevarmos a fronte em direção
ao firmamento, uma profunda intuição nos dá a certeza
de que Deus não ergueria bilhões de corpos celestes apenas
para nossa contemplação.
A partir de 18 de abril 1857, data da primeira publicação
de O Livro dos Espíritos, passamos a ter o respaldo das Inteligências
Celestiais, que vinham para atestar a pluralidade dos mundos habitados—um
dos postulados da Doutrina Espírita—revivendo, na verdade, o próprio
Cristo, que já nos havia asseverado: ANa
casa de meu Pai há muitas moradas (...)@
(João 14:2).
Uma dessas moradas, o planeta Marte, tem sido alvo
das mais variadas especulações, que vão desde as historietas
e filmes infantis, povoados de imagens hilariantes e fantasiosas, que tanto
fertilizam a nossa imaginação, até as mais profundas
ilações de cunho esotérico ou cientifico.
Sob a ótica espírita, a temática
sob análise atinge conotações ainda mais profundas,
em virtude da observância do tríplice aspecto — Ciência,
Filosofia e Religião. Visando à elucidação
dos fatos, examinemos, preliminarmente, a nota de Kardec, atrelada à
questão 188 da primeira obra basilar, que ora transcrevemos,
em parte:
"De acordo com o ensinamento dos
Espíritos, de todos os globos que compõem o nosso sistema
planetário, a Terra é onde os habitantes são menos
avançados, tanto física como moralmente. Marte lhe seria
ainda inferior (...)"(grifo nosso).
Certamente valeu-se o codificador, inclusive, da comunicação
dos Espíritos Mozart e Bernard Pallissy, que se diziam encarnados
em Júpiter, em mensagem canalizada pelo médium e teatrólogo
francês Victorien Sardou. Segundo eles, Marte seria o planeta mais
inferior do Sistema Solar, de precárias condições
de vida, habitado por criaturas subumanas.
Alguns anos após, mais precisamente em 1935,
viria a lume a obra Cartas de Uma Morta, uma coletânea
de mensagens psicografadas pelas mãos de Francisco Cândido
Xavier, na qual o Espírito Maria João de Deus, sua querida
mãe, entre outros temas, nos descrevia com riqueza de detalhes a
vida marciana. Atentemos para o trecho que se segue:
"Todavia, o que mais me admirou não
foram as expressões físicas deste planeta, tão adiantado
em comparação com o vosso. Nele a sociedade está constituída
de tal forma, que as guerras ou os flagelos seriam fenômenos jamais
previstos ou suspeitados. A vibração de paz e de harmonia
que ali se experimenta irradia aos corações felicidades nunca
sonhadas na Terra. A mais profunda espiritualidade caracteriza essa humanidade,
rica de amor fraterno e respeito ao Criador".
Mais tarde, novamente através da mediunidade
segura de Chico Xavier, em crônica datada de 25 de julho de 1939,
integrante da obra intitulada Novas Mensagens, o Espírito
Humberto de Campos nos trazia informações complementares,
corroborando o relato acima; vejamos:
"Tive, então, o ensejo de
contemplar os habitantes do nosso vizinho, cuja organização
física difere um tanto do arcabouço típico com que
realizamos as nossas experiências terrestres. Notei, igualmente,
que os homens de Marte não apresentam as expressões psicológicas
da inquietação em que se mergulham os nossos irmãos
das grandes metrópoles terrenas. Uma aura de profunda tranqüilidade
os envolve. É que, esclareceu o mentor que nos acompanhava, os marcianos
já solucionaram os problemas do meio e já passaram pelas
experimentações da vida animal, em suas fases mais grosseiras.
Não conhecem os fenômenos da guerra e qualquer flagelo social
seria, entre eles, um acontecimento inacreditável".
Conforme se depreende facilmente, as duas últimas
mensagens aqui reproduzidas, de fonte mediúnica comprovadamente
fidedigna, opõem-se frontalmente às instruções
recebidas por Victorien Sardou, considerado pelo Professor Rivail como
"um desses fervorosos e esclarecidos adeptos" (Revista Espírita,
ano I, n1
08, agosto/1858).
Entretanto, de posse de seu peculiar bom senso, Kardec
jamais conferiu às orientações dos Espíritos
o caráter de verdades absolutas, consciente de que o tempo traria
novas revelações ou descobertas científicas que haveriam
de modificá-las ou ratificá-las, pois que, à época,
a Doutrina Espírita apenas acabara de desabrochar. E isto, pelo
visto, parece ter ocorrido; tanto por parte das comunicações
espirituais, conforme constatado, como da Ciência Acadêmica,
à qual se submetem os princípios fundamentais do Espiritismo,
pois assim se estatuiu:
"Caminhando de par com o progresso,
o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas
lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria
nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará" (Kardec,
A Gênese, capítulo I, item 55).
E, certamente, as investidas espaciais nos têm
dado relevante contribuição, principalmente através
dos engenhos norte-americanos denominados Mariner 9, Viking (1e2),
Mars Pathfinder e, mais recentemente, da sonda não tripulada
Pathfinder, fruto do investimento de milhões de dólares,
que, tendo pousado em solo marciano no dia 4 de julho de 1997, liberou,
dois dias após, o veículo teleguiado denominado Sojourner.
Durante meses diversas imagens nos foram transmitidas, entretanto,
em momento algum foram encontrados quaisquer indícios de vida orgânica,
nem, tampouco, de "criaturas subumanas".
Ante o exposto, uma dúvida naturalmente se
estabelecerá: Se nos é defeso, enquanto encarnados, visualizar
aspectos da civilização marciana, mesmo de posse dos mais
hodiernos recursos da tecnologia astronômica, a que espécie
de vida, afinal, se referiram os Espíritos Humberto de Campos e
Maria João de Deus em suas revelações?
Recorramos, primeiramente, à questão
181, de O Livro dos Espíritos, na qual o mestre
de Lion indaga:
"Os seres que habitam os diferentes
mundos têm corpos semelhantes aos nossos?"
A que os Espíritos respondem:
"Sem dúvida possuem corpo,
porque é preciso que o Espírito esteja revestido de matéria
para agir sobre a matéria. Porém, esse corpo é mais
ou menos material, de acordo com o grau de pureza a que chegaram os Espíritos.
E é isso que diferencia os mundos que devem percorrer; porque há
muitas moradas na casa de nosso Pai e, portanto, muitos graus (...)".
E mais adiante, à questão 186,
Kardec questionaria:
"Há mundos em que o Espírito,
deixando de habitar um corpo material, tem apenas como envoltório
o perispírito?"
...tendo obtido o seguinte esclarecimento:
"-Sim, há. Nesses mundos até
mesmo esse envoltório, o perispírito, torna-se tão
etéreo que para vós é como se não existisse.
É o estado dos Espíritos puros" (grifei).
Percebemos, destarte, que os Espíritos que ora
habitam o planeta Marte, ainda que não se encontrem num patamar
evolutivo de absoluta pureza, certamente se fazem revestir de um corpo
de matéria tão quintessenciada que nossa limitada percepção
visual não consegue atingir.
Ademais, aguardemos, por orientação
futurista do próprio codificador, os avanços científicos
que, gradualmente, confirmarão todos os fundamentos espíritas,
pois que, contradições, quando se apresentam, são
mais na superfície do que no fundo, o que atesta a essência
irrefutavelmente divina do Espiritismo, apanágio que, em última
análise, constitui seu inabalável alicerce.
José Marcelo Gonçalves Coelho
jmarcelo.vix@zaz.com.br
Referências bibliográficas:
XAVIER, Francisco Cândido
Novas Mensagens, FEB; pelo espírito Humberto de Campos
Cartas de Uma Morta, editora LAKE; pelo espírito Maria João
de Deus
KARDEC, Allan
O Livro dos Espíritos, editora LAKE, tradução
de Herculano Pires
Revista Espírita, Ano I, agosto de 1858, número 8
JESUS, Novo Testamento, Evangelho de João, capítulo
14
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