Princípios Espíritas


Washington Borges de Souza
        O Espiritismo ensina, sustenta e comprova que Deus existe e "é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas".
        Deus, espírito e matéria são os elementos gerais do Universo.
        A natureza íntima do Criador é, ainda, para nós, nos atuais estágios evolutivos, inacessível à nossa compreensão. Sabemos, apenas, que sobrepaira sobre tudo que existe em toda parte e que Suas leis são soberanas, muitas delas desconhecidas da Humanidade terrena.
        Outro componente da trintade universal é o espírito, do qual também pouco sabemos. Comanda os pensamentos e ações do ser humano quando individualizado, por meio de sua vontade e livre-arbítrio, dirigindo os fluidos provindos do fluido universal de onde promanam todas as coisas.
        O terceiro elemento universal é a matéria, mais ou menos densa, da qual faz parte nosso corpo físico, morada provisória da alma imortal.
        A Ciência, nos rumos da evolução, desbrava o desconhecido e muitas noções são alcançadas para auxiliar a alma na caminhada para sua destinação: a perfeição.
        O Espírito, a fim de que possa atuar sobre a matéria mais grosseira, se serve de outra menos densa, a fluídica, a qual, no que se refere ao ser humano, recebeu na Codificação Kardequiana a denominação de "perispírito", ligado ao corpo físico molécula a molécula por ocasião da concepçãono ventre materno, no majestoso processo divino da formação da vida, exclusivamente originária da Suprema Sabedoria.
        Procede da Doutrina Espírita a lição de que o Espírito, também denominado alma,  é criado "simples e ignorante", mas as suas origens se perdem nas noites do passado distante. "É o ser inteligente da criação"... "Uma chama, um clarão, uma centelha".
        O princípio inteligente existente no Universo é inegável. O Espírito é a "individualização" desse princípio conforme esclarece a Doutrina, mas a sua criação pertence aos domínios de Deus e está fora dos limites da nossa atual compreensão, podendo-se, apenas, formular teorias para explicá-la. A que parece estar mais concorde com a razão é a que expõe que o princípio inteligente inicia sua jornada nos reinos inferiores da Natureza, progredindo até atingir o reino humano, quando se individualiza e adquire o livre-arbítrio.
        A própria Doutrina Espírita enfatiza que há certos mistérios ainda inacessíveis à nossa precária compreensão. A natureza íntima do Criador, as origens da matéria e do Espírito, o infinito do Universo, são exemplos típicos. As vaidades, muitas vezes, se insurgem contra tal realidade e buscam criar sistemas individuais, sem, contudo, contarem com a aprovação dos Espíritos encarregados da Terceira Revelação. Impõe-se, pois, a separação das opiniões pessoais das verdades já reveladas a fim de se manter resguardada a responsabilidade doutrinária, a pureza e autenticidade do que por ora nos é concedido entender.
        O Espiritismo não consagra ou sanciona milagres, nem mesmo certos mistérios.Os primeiros ele os explicita à luz de leis naturais, e os segundos, os mistérios, situa-os fora do alcance da nossa atual compreensão. Incumbe, pois a nós, ainda não capacitados a poder entendê-los, admitir que pertencem aos domínios divinos. Somente a compreensão aprimorada irá explicá-los. Há necessidade de aceitar isso com humildade, o que também é de difícil conquista, dada a arrogância humana.
        Observando-se os reinos inferiores da Natureza, percebem-se certas aproximações de caracteres entre eles e o humano. Até mesmo o mineral não foge a certa similitude. No vegetal ela se acentua. Há plantas benfazejas, inúteis, úteis e até nocivas e venenosas, como as criaturas humanas. Há as que sugam as energias das outras exatamente como constatamos em processos obsessivos. Há espécies dotadas de sensibilidade evidentes e zoófitos que despertam atenção.Árvores que produzem bons frutos e outra frutos ruins. As que nada oferecem a não ser seu lenho e sua função. Vegetais que alimentam a vida e ervas daninhas que atrapalham e incomodam, inúteis, portanto, tais como as pessoas desviadas dos caminhos do bem e dedicadas à à destruição e à perversidade.
        Os animais inferiores, do mesmo modo, mantêm a acentuada evidência de que há um princípio conducente a Deus em tudo que existe. Alguns de instintos mais aperfeiçoados do que outros e até denotando certo grau de inteligência. São eles os prestimosos auxiliares do homem. Na Natureza tudo se encadeia.
        O Espiritismo tem por fundamento a existência de Deus, dos Espíritos e das Leis Naturais que regulam a vida e tudo que existe no Universo. É, portanto, doutrina natural. À medida que outras leis ainda desconhecidas são desvendadas, ampliam-se, conseqüentemente, as fontes benfeitoras sobre nossas vidas. Em verdade não existe ninguém rigorosamente materialista porque no imo de cada ser humano há uma centelha provinda do Criador que jamais se apaga, a alma. Entretanto, é inegável que facções da Humanidade se fixam na convicção enganosa que nada há além da matéria; todavia, mesmo esta se conserva às vezes fora do alcance de suas concepções, pois existe em outros estados que escapam aos limitados sentidos humanos, já devidamente confirmados pela Ciência tradicional.
        Todos estamos subordinados ao axioma da existência. A Doutrina Espírita parte dessa realidade. Estacionar aí não satisfaz à natureza humana dotada de racionalidade, de inteligência, de vontade, de livre arbítrio. Esses e outros atributos fazem-na progredir, aperfeiçoar-se. Esta e a lei natural que rege a todos, ateus ou não, e a tudo que existe, queiramos ou não. Tais princípios são incontestáveis.
        A grandiosidade dessa Doutrina é incomensurável. Encaminha as pessoas esclarecendo-as. Respeita o livre arbítrio de cada uma mostrando-lhe, com antecedência, as conseqüências de seus procedimentos em face das leis que governam o Universo. Jamais se fixa em discussões vazias e estéreis. Clareia a via comum a todos e aguarda os retardatários, sejam eles niilistas, espíritas, católicos, protestantes ou de que seita ou religião forem. É a Religião que visa a reunir todas as criaturas em torno do Criador e da Verdade.
        Há quem se apraz em atar-se a vaidades, em fazer com que prevaleçam seus entendimentos, em perder tempo com sofismas e sortilégios, em  desarmonizar com discussões descabidas e inócuas, em lutas inglórias, opondo-se a seus próprios interesses de evolução. Tudo isso faz parte da vida. Tudo, enfim, está sob controle da soberana, augusta e insofreável vontade de Deus e da Sua Misericordiosa Justiça.

Texto extraído da Revista "Reformador", Maio 1999.


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